"Conhecer Icó para mim foi um deslubramento. Aqueles sobrados foram uma grande visão do barroco-sertanejo... fiquei encantado. Minas Gerais é lindo com aqueles prédios, mas Icó não fica pra trás nem de Minas nem de ninguém!"
Estas palavras foram ditas pelo paraibano Ariano Suassuna no dia 30 de outubro de 2011, quando esteve em Icó para a realização de sua aula-espetáculo e a gravação de um documentário com Rosemberg Cariri.
O paraibano que reforçou o poder cultural do Nordeste em sua obra morreu na tarde dessa quarta-feira [24] e levou o Icó em seu coração. O amor pela beleza arquitetônica e histórico-cultural foi confirmado em uma entrevista ao jornal "Tribuna do Norte", do Rio Grande do Norte. Ao ser perguntado "Se tivesse que se despedir do Nordeste, que imagens gostaria de levar com você?", Suassuna disse que "do Ceará, eu gostaria de levar Icó e aquela região do Araripe".
Durante a passagem no Teatro da Ribeira dos Icós, o autor do "Auto da Compadecida" estava com sua esposa, Sra. Zélia Suassuna e recordou que conheceu o Município de Icó nos idos de 1946, aos 19 anos, quando viajava de Recife ao sertão cearense, para visitar um primo que residia em uma fazenda chamada Várzea Grande, sertão adentro. Logo após, visitou a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida por Igreja do Monte.
PARA SEMPRE ARIANO - O escritor, poeta e dramaturgo morreu de parada cardíaca. Ele estava internado, desde segunda-feira [21] no Real Hospital Português, após ter sofrido um acidente vascular cerebral [AVC] hemorrágico.
Nascido em João Pessoa, quando a capital paraibana ainda se chamava Nossa Senhora das Neves, em 1927, ainda adolescente, Ariano Vilar Suassuna foi morar no Recife, onde terminou os estudos secundários e deixou seu nome marcado na cultura literatura brasileira, especialmente no teatro e na literatura.
Em 1946, na capital pernambucana, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco, junto com o amigo Hermilo Borba Filho. No ano seguinte, escreveu sua primeira peça teatral, Uma Mulher Vestida de Sol, seguida de Cantam as Harpas de Sião e Os Homens de Barro. Em 1955, escreveu sua obra mais popular, Auto da Compadecida, que conta as aventuras de dois amigos, Chicó e João Grilo, no Nordeste brasileiro. A peça foi adaptada duas vezes para o cinema, em 1969 e 2000.
Suassuna continuou criando, escrevendo peças de teatro, romances e poesias. O Santo e a Porca, Farsa da Boa Preguiça e Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta são algumas das dezenas de obras dele. A maioria delas foi traduzida para outros idiomas, como francês, alemão, espanhol, inglês e holandês. Em 1989, passou a ocupar a Cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras.
Carismático, Suassuna esbanjou simpatia por onde passou. Mais recentemente, apresentou sua “aula-espetáculo” por todo o Brasil, onde ensinou formas de arte para o público e mostrou a riqueza da cultura do país, contando histórias, “causos” e piadas. Suassuna mostrou ao povo brasileiro como ele é inventivo, engraçado, esperto e interessante e provou que não existe nada do lado de lá das fronteiras que possamos invejar.
Em uma de suas últimas passagens por Brasília, Suassuna encerrou a aula-espetáculo valorizando, não sua obra, mas a de outro brasileiro. O escritor citou o filósofo Matias Aires como exemplo da qualidade nacional, mas também como um resumo da sua própria trajetória, "e da de todos nós", neste mundo.
“Quem são os homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto, nem cortejo, e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma das mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E, com esta, em um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece”, disse, então, Ariano Suassuna.
* Com informações da Agência Brasil e foto: Heitor Muniz